7.10.08

A Transfiguração, segundo Lucas (Lc 9,28-36) – Primeira aproximação


Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o.» Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto.


O relato da transfiguração de Jesus apresenta-nos uma dominante: o narrador é aquele que se faz mais ouvir ao longo do discurso. É um narrador que não está presente na história contada, ou seja, não é um personagem da história que conta. Trata-se portanto de um narrador extradiegético. Não é contudo um narrador que se limita a descrever secamente, de uma forma neutra, determinados acontecimentos; ao invés, é um narrador implicado, na medida em que consegue que o leitor seja levado a exaltar a figura de Jesus. Não se limita a dizer que «o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante», mas refere-se também à «glória de Jesus», termo que lembra, por exemplo, as teofanias do livro do Êxodo. Refere que Pedro «não sabia o que estava a dizer», sugerindo que se está em presença de uma realidade que ultrapassa em muito a compreensão humana, como se comprova de seguida com a voz surgindo da nuvem (mais outra palavra associada à manifestação de Yahweh) que afirma que Jesus é o «meu [supõe-se que do próprio Yahweh] Filho predilecto». Com tudo isto, o leitor é apresentado a um Jesus que não pronuncia uma única palavra, mas que no entanto é colocado acima de Moisés e Elias, figuras da Lei e dos Profetas, e afirmado como filho predilecto de Deus.

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