9.10.08

Enquadramento da Transfiguração



A Transfiguração, segundo Lucas (Lc 9,28-36) – O enquadramento



A maior parte das indicações cronológicas que nos são dadas neste relato são do tipo factual («enquanto», «quando», «naqueles dias»), ou seja, são indicações que se referem ao normal desenrolar da cronologia da história que se conta. No entanto, as palavras iniciais, «uns oito dias depois» referem-se a um tempo simbólico – basta comparar com os paralelos em Mt 17,1 e Mc 9,2 («seis dias depois») para perceber que o narrador lucano não está a fornecer ao leitor uma mera referência cronológica, mas que se está a referir a algo mais – está a dar a esta referência temporal um significado mais profundo que torna esta indicação não tempo factual, mas tempo monumental.

No que diz respeito ao enquadramento espacial, a narrativa é bastante simples: dá-nos a indicação de que «levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar». Toda a acção se desenrola então neste monte, do qual todos descem no versículo imediatamente a seguir ao final deste micro-relato («ao descerem do monte» - Lc 9,37). Assim, todo o enquadramento espacial é topográfico, e o plano dominante da narrativa é vertical: as personagens sobem a um monte, os discípulos caem de sono e levantam-se de seguida, uma nuvem desce do céu para os cobrir, e uma voz vinda da nuvem fala aos discípulos. Todos estes movimentos importantes neste episódio têm esta dimensão de verticalidade.

Talvez seja útil verificar os movimentos de aproximação e distanciamento dos personagens através da análise dos planos do relato (num paralelo cinematográfico), individuando os planos de conjunto, onde o leitor “vê” toda acção, os planos médios, onde se observa a acção de mais de um personagem, e grandes planos, onde o leitor se centra numa única personagem, acedendo, de certa forma, à sua intimidade – neste relato, estes últimos só existem em acções de Jesus, comprovando a sua centralidade.

Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o.» Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto.

Plano de conjunto
Plano médio
Grande plano

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