9.10.08

Jesus caminha sobre as águas (Mt 14, 22-33) - Os limites do texto


Depois, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto ele despedia as multidões. Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E chegada a noite, estava ali só. O barco encontrava-se já a várias centenas de metros da terra, açoitado pelas ondas pois o vento era contrário. De madrugada, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Ao verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se e disseram: «É um fantasma!» E gritaram com medo. No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos, Sou Eu! Não temais!» Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas.» «Vem» - disse-lhe Jesus. E Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento, teve medo e começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!» Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» E quando entraram no barco, o vento amainou. Os que se encontravam no barco prostraram-se diante de Jesus dizendo: «Tu és realmente o Filho de Deus!»


Um dos aspectos através dos quais podemos olhar uma determinada perícope bíblica, são os seus limites. Porque existem regras que nos ajudam a não corrermos o risco de estudar uma perícope cortando-a a meio e deixando de lado aspectos mais ou menos importantes para a sua compreensão. Um primeiro critério é o tempo. Esta passagem está temporalmente delimitada no início pela palavra "Depois", indicando uma mudança de momento temporal em relação ao que acontecera antes, ou seja, o relato da multiplicação dos pães. O limite final percebe-se, em termos temporais quando em Mt 14, 34 encontramos a expressão "após a travessia". Claro que isolado este factor não é decisivo quanto à determinação do limite temporal, por isso juntamos um outro critério que é o espaço. Aqui, a cena anterior passava-se num lugar deserto (Mt 14, 13) e há uma mudança de espaço que delimita a cena: "Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem." Verificamos que dentro deste relato existem mudanças de espaço que não são relevantes para especificar os seus limites. O limite final aparece em Mt 14, 34, quando diz: "após a travessia, pisaram terra em Genesaré". O terceiro critério são as personagens. Se no relato anterior temos uma cena cheia de gente onde aparecem Jesus, o povo (contado em mais de cinco mil pessoas) e os discípulos, no nosso relato estamos perante um acontecimento mais intimo, passado no grupo mais restrito dos discípulos onde aparecem os seguintes personagens: Jesus, Pedro e os discípulos. Um outro critério de delimitação de um texto pode ser o tema. Aqui, passamos do relato da multiplicação dos pães, à caminhada de Jesus sobre as águas, dois temas que podem ser incluídos num tema mais abrangente dos milagres de Jesus, mas que claramente constituem relatos distintos. Quanto ao género literário, não é possível definir claramente os limites através dele, porque quer o relato anterior, quer o posterior usam do mesmo género literário para relatar os acontecimentos. Podemos ainda incluir este relato numa sequência narrativa que vai desde Mt 14, 13 até á confissão messiânica de Pedro em Mt 16, 13-20. A sequência vai apresentando feitos milagrosos e ensinamentos feitos com autoridade por parte de Jesus, para que pudesse culminar na confissão messiânica de Pedro. A sequência une episódios que muito provavelmente não aconteceram de forma tão sequencial como são relatados, precisamente para enfatizar que é a partir delas que podemos, com Pedro dizer: "Tu é o Messias, o Filho de Deus vivo." A união é feita através de expressões que enfatizam a sequência temporal ou espacial nomeadamente: Depois (Mt 14, 22); Após a travessia (Mt 14, 34); Aproximaram-se, então (Mt 15, 1); Jesus partiu dali (Mt 15, 21); Partindo dali (Mt 15, 29); Então (Mt 16, 1); Ora, os discipulos ao atravessarem para a outra margem (Mt 16, 5).


Podemos também fazer um divisão do relato por quadros. Aqui temos a seguinte divisão:

1. Depois, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto ele despedia as multidões.

2. Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E chegada a noite, estava ali só. O barco encontrava-se já a várias centenas de metros da terra, açoitado pelas ondas pois o vento era contrário.

3. De madrugada, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Ao verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se e disseram: «É um fantasma!» E gritaram com medo. No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos, Sou Eu! Não temais!» Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas.» «Vem» - disse-lhe Jesus. E Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento, teve medo e começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!» Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?»

4. E quando entraram no barco, o vento amainou. Os que se encontravam no barco prostraram-se diante de Jesus dizendo: «Tu és realmente o Filho de Deus!»

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