10.10.08

Oração de Jesus em Getsémani (Mc 14, 32-42):
32Chegaram a uma propriedade chamada Getsémani, e Jesus disse aos discípulos: “Ficai aqui enquanto Eu vou orar.” 33Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-se. 34E disse-lhes: “A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai.” 35Adiantando-se um pouco, caiu por terra e orou para que, se possível, passasse dele aquela hora. 36E dizia: “Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres.”
37Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: “Simão, dormes? Nem uma hora pudeste vigiar! 38Vigiai e orai, para não cederdes à tentação; o espírito está cheio de ardor, mas a carne é débil.” 39Retirou-se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras. 40E voltando de novo, encontrou-os a dormir, pois os meus olhos estavam pesados; e não sabiam que responder-lhe.
41Voltou pela terceira vez e disse-lhes: “Dormi agora e descansai! Pois bem, chegou a hora. Eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pescadores.” 42Levantai-vos! Vamos! Eis que chega o que me vai entregar.”


Delimitação do micro-relato

Tema:
O texto escolhido tem por tema a Oração de Jesus em Getsémani, no contexto do sofrimento de Jesus por causa da sua futura paixão e morte.

Género Literário:
A narração mostra-nos o sofrimento e a angústia que Jesus sentiu naquele momento por causa do martírio que lhe esperava. Desta forma, podemos compreender que, neste texto, é-nos demonstrada a condição humana de Jesus, pois, sendo Deus, foi em tudo igual aos homens excepto no pecado. O texto sublinha também, a importância da vigilância e da oração na vida do crente. Todo o discurso é construído em torno do drama da agonia de Jesus no Getsémani.

Personagens:
Constam no trecho as seguintes personagens: Jesus e os seus discípulos (Pedro Tiago e João).

Espaço:
Toda a acção decorre num mesmo espaço, o Getsémani, desde a chegada das personagens naquele lugar até ao momento de permanecerem ali até ao fim, onde começam a dar início a uma nova acção.

Tempo:
A acção, embora bastante indefinida pode ser situada durante a noite; assim o dá a entender a atitude dos discípulos, pois Jesus ao retornar da sua profunda oração, encontrava os seus discípulos a dormir, p. ex: “Depois foi ter com os discípulos encontrava-os a dormir” (Mc 14, 37); “E voltando de novo, encontrou-os a dormir, pois os meus olhos estavam pesados; e não sabiam que responder-lhe.”(Mc 14,40). Porém, a definição de um episódio requer a confrontação com o seu anterior e posterior imediatos. Assim sendo, vejamos:

Anuncio das negações de Pedro (Mc 14,27-31):
27Jesus disse-lhes: “Todos ides abandonar-me, pois está escrito: Ferirei o pastor e as suas ovelhas hão de dispersar-se. 28Mas, depois de eu ressuscitar, hei de preceder-vos a caminho da Galileia”
29Pedro disse: “mesmo que todos venham a abandonar-te eu não.” 30E Jesus disse: “Em verdade te digo, que hoje, esta noite, antes de o galo cantar duas vezes, tu me negarás três vezes.” 31Mas ele insistia com ardor: “Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei.” E todos afirmaram o mesmo.

Prisão de Jesus Mc 14,43-52:
43E logo, ainda Ele estava a falar, chegou Judas, um dos Doze, e, com ele muito povo com espadas e varapaus, da parte dos sumos sacerdotes, dos doutores da Lei e dos anciãos. 44Ora, o que o ia entregar tinha-lhes dado este sinal: “Aquele que eu beijar é esse mesmo; prendei-o e levai-o bem guardado.” 45Mal chegou, aproximou-se de Jesus dizendo: “Mestre!”; e beijou-o. 46Os outros deitaram-se as mãos e prenderam-no. 47Então, um dos que estavam presentes, puxando da espada, feriu o criado do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha. 48E tomando a palavra, Jesus disse-lhes: “Como se eu fosse um salteador, viestes com espadas e varapaus para me prender! 49Estava todos os dias junto de vós, no templo, a ensinar, e não me prendestes; mas é para se cumprirem as Escrituras.” 50Então, os discípulos, deixando-o, fugiram todos. 51Um certo jovem, que o seguia envolto apenas num lençol, fugiu nu.

Assim dispostos, os relatos, e dadas as suas notórias distinções relativamente aos elementos que estruturam os episódios, revelam um carácter unitário próprio e específico, pelo que podemos afirmar que este trecho de Marcos (14, 32-42) é, de facto, um episódio bem definido.

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