14.10.08





Mc 1, 40-45
A cura de um Leproso




40Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» 41Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» 42Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. 43E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: 44«Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» 45Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

(Neste vídeo pode-se ver com imagens mas o evangelho é um pouco alterado. Aconselho a sua visualização para quem se queira divertir um pouco)
http://video.google.com/videoplay?docid=-6109257416976154309

I. Primeira aproximação


a. Observar como está construído o relato
Este pequeno relato descreve um dos milagres de Jesus. Um leproso com muita fé deseja que Jesus deseje curá-lo. Tendo isso acontecido Jesus cura-o e o leproso bendisse a Deus difundido a notícia a todo o lado. E todos iam ter com Jesus.

b. Examinar o nível formal: Composição, estilo, linguagem, tipo de narração
Estamos perante uma narração que pretende descrever com veracidade os factos acontecidos.

c. Como intervém o narrador
Embora o narrador não se encontre dentro do texto, não quer dizer que ele tenha uma posição neutra fase às personagens presentes, mas tenha uma posição implicada com os ensinamentos e a doutrina de Jesus. Isto porque ele encontra-se comprometido com a doutrina de Jesus e, mostrando o ponto de vista de Jesus e dá-lhe todo o Palco. O narrador manifesta-se, ao leitor, como um fiável porque tudo é dado com certeza. O narrador, vivendo na cumplicidade com o próprio Jesus, deseja que o leitor consiga também ter esta mesma experiencia teológica.
“Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.»” (v.41)

A partir desde versículo podemos retirar uma série de reparos sobre a posição de Jesus. O narrador coloca Jesus como protagonista deste pequeno relato dando um grande destaque face aos presentes e o poder de controlar tudo o que está a acontecer:

d. O narrador está ou não presente na história?
O narrador, não fazendo parte do leque de personagens presentes neste relato em estudo, pode-se dizer que é um narrador extra-diagético. E, como conhece já toda a história e vai revelando todo aquilo que vai acontecendo, torna-se narrador omnisciente.

II. Os limites do texto

a. Onde começa o relato e onde termina? (critérios: tempo; espaço; personagens; tema; modelo ou género literário)
b. Uma vez fixados os limites, verificar como se liga o texto ao seu contexto (indícios narrativos que remetem para a situação anterior e posterior).
c. O relato faz parte de uma sequência narrativa? A sequência é dominada por um herói ou por um tema? Como está constituída? Que conexões unem os micro-relatos da sequencia?


O relato encontra-se enquadrado com todo o capítulo.
Podemos dizer que este relato começa no versículo 40 dada a algumas quebras e continuidade com o episódio anterior. A quebra mais significativa talvez seja sobre as personagens. Surgiu a dúvida se o versículo 39 poderia fazer sentido neste texto visto nos informar o tema e o espaço do texto que estamos a estudar.

A personagem de Jesus é a que faz a continuidade e a ligação com o que está anterior a este texto. Conseguimos encontrar a personagem pelas seguintes referências: “veio ter com Ele” (v.40), “Jesus” (v. 45). Surge, no mesmo versículo uma personagem nova do Evangelho. Esta não está nominada! Ela é apenas tratada pela sua doença: “um leproso” (v.40). já no fim do texto, existe uma referência a algumas pessoas: “E de todas as partes iam ter com Ele” (v.45).

Para situarmos este texto a nível de tempo temos de nos recorrer a algumas referências a versículos anteriores ao texto em estudo. Encontramos algumas das seguintes, no mesmo capítulo, com a seguinte ordem: “naqueles dias” (v.9), “esteve no deserto quarenta dias”(v.13), “depois que João foi preso” (v. 14), “logo no sábado” (v. 21), “ao entardecer” (v.32), “de madrugada”(v.35), “e foi por toda a Galileia” (v.39).
Embora a ultima pareça ser uma referencia espacial, dá-nos a ideia que a cura do leproso não acontece de madrugada (cf. v. 35) mas existe um espaço de tempo desde o “de madrugada”(v. 35) e “um leproso foi ter com Ele” (v. 40) que desse para que fosse “por toda a Galileia, pregando em sinagogas e expulsando demónios”(v. 39).
Sobre o contexto a nível do tempo existe uma ruptura (e ao mesmo tempo continuidade) com o texto posterior com a seguinte referência:

“depois de alguns dias” (Mc 2, 1)

Entrando agora no estudo sobre o espaço encontramos algumas referencias que situam o texto em estudo e ligam este texto com a passagem anterior. Inicialmente podemos situar esta passagem dentro da Galileia pela referência que encontramos antes do texto: “E foi por toda a Galileia” (v.39). Este texto termina dizendo: “Jesus… permanecia fora, em lugares desertos” e o próximo versículo já diz “entrando de novo em Cafarnaum”. Deste modo, existe uma ligação com o texto anterior que termina dizendo que estava fora da Cidade.

“45Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele. 1Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm,” (Mc 1, 45-2,1)

O género literário de uma narração descritiva mantém-se com a passagem anterior e a posterior. O tema, igualmente com o género literário mantém-se descrevendo as curas realizadas por Jesus (“cura da sogra de Pedro”, diversas curas”, cura de um leproso”, “cura de um paralítico”).

d. Dividir o relato em Cenas
Depois desta análise anterior podemos dividir o texto em pequenas cenas. Assim podemos dividir este relato em, pelo menos, duas cenas: 40-42; 44-45.


III. Intriga ou trama


a. Que fio condutor assegura a coerência do argumento narrativo? (Distribuir o texto segundo a estrutura quinaria)

Estrutura Quinaria


a) Situação inicial

40Um leproso veio ter com Ele,

b) Nó
caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.»


c) Acção transformadora
41Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» 42Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado.


d) Desenlace
43E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: 44«Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.»

e) Situação final
45Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.



b. Identificar as modalidades da acção. Como é que as modalidades da acção influenciam o sujeito da acção transformadora? Quem possui o saber/fazer, o poder/ fazer ou ambos? Como os adquire o sujeito? Tinha-os ao principio?

Dever/fazer
O dever é acontecido em Jesus: Jesus deve querer curar-lhe.

Querer/ fazer
O verbo querer está muito referenciado nesta pequena narração. Deparamos que, neste jogo de quereres existe um querer inicial: o leproso quer que Jesus queira curar-lhe. mas, o leproso dá a conjugação da primeira pessoa a Jesus “Quero” (v. 41). Assim sabemos que o querer da fé do leproso transforma-se no querer concreto do fazer de Jesus.

Saber/ fazer
Não se encontra muito referenciado. Podemos dizer que o leproso sabe que Jesus pode purificar assim dá essa acção a Jesus que a realiza.

Poder/ fazer
O leproso, que nem nome tem, dá toda a sua acção a Jesus. O poder e o fazer poder encontra-se no mais intimo de Jesus: “Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.»”.

c. A intriga é de resolução (acção) ou de revelação (conhecimento)?
Estamos perante uma intriga de acção concreta que é a purificação do leproso. Porém, este acontecimento faz parte de um caminho do narrador de fazer revelar ao leitor quem é Jesus. Por esta passagem de Acção ficamos a conhecer melhor o seu mistério de Salvação! Deste modo, estamos perante uma intriga de acção e revelação.

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