23.10.08

RESUMO DO EVANGELHO DE MARCOS
É o segundo dos Evangelhos na ordem tradicional e provavelmente o segundo na data da redacção (há hipótese de ser autêntico a versão aramaica de Mateus, que se perdeu). É seu autor, segundo antiquíssima tradição, João Marcos, filho de Maria, em cuja casa os cristãos de Jerusalém se reuniam para orar (Act 12,12). Não temos uma informação de quando foi escrito e a sua situação geográfica. As únicas informações que temos são de Papias e a tese de Flávio Josefo. Estima-se que foi redigido pouco antes da destruição de Jerusalém (ano 70). Discípulo de Paulo, durante algum tempo, passou depois a acompanhar Pedro, cuja pregação em boa parte reproduz. É o Evangelho mais curto em extensão, o menos cuidado literariamente e o mais vivo na discrição dos acontecimentos, o que explica o maior uso que, sobretudo no passado, a Igreja fez dele, logo a seguir ao de Mateus. Quando lemos este Evangelho, não sabemos qual será o seu desfecho. Surpreende-nos, tem vários graus, ou seja, vários sentidos de significado, tem lacunas, tem imensa ironia. Este Evangelho está marcado pela dialéctica: expectativa-transformação.
O personagem mais surpreendente deste Evangelho é Jesus. Este Jesus é um Jesus da surpresa. Mais do que em qualquer outro Evangelho, Jesus, «Filho de Deus» (Mc 1,1.11; 9,7; 15,39), revela-se profundamente humano, de contrastes por vezes desconcertante. É acessível (8,1-3) e distante (4,38-39); acarinha (10,16) e repele (8,12-13); impõe segredo acerca da sua pessoa e do bem que faz e manda apregoar o benefício recebido. Este Jesus, tão simples e humano, é também exigente para com seus discípulos. Desde o início da sua pregação (1,14), arrasta as multidões atrás de si e alguns seguem-no (1,16-22). Porém, a pessoa de Jesus é essencialmente misteriosa, para o seguir, por isso, a incompreensão é uma das características dos discípulos. Este Evangelho é um grande relato vocacional – “como fazer os discípulos”. É e não, ao mesmo tempo, um relato de biografia. Tem algo trágico “Paixão de Cristo”, mas a tragedia não é valorizado neste Evangelho, porque não é do mesmo significado e finalidade da tragédia grega. Mais do que um comentário homilético é uma proclamação da Palavra.
Marco apresenta-nos, como os outros evangelistas, a pessoa de Jesus e o grupo dos discípulos como primeiro modelo da Igreja. É uma proclamação unitária constante e teológica. O narrador deste Evangelho é extradiegético, omnisciente, marcado pelo cuidado com o seu leitor e não deixa para o fim as partes importantes sobre Jesus. Ele prepara o leitor desde o início até ao fim; até a parte decisiva – (1,1; 9,7). O narrador cria uma boa tensão no leitor, um bom conhecimento para receber a boa mensagem que lê. O leitor comunica-se com o narrador. O leitor faz, entre outras, esta pergunta: “Como vou aderir e acolher Jesus?
Este Evangelho começa com a pregação de Baptismo, prossegue com o ministério de Jesus Cristo na Galileia, termina com a sua morte e ressurreição. A sua cristologia é simples e acessível, como convinha ao anúncio querigmático a que se destinava: Jesus de Nazaré é o Messias que se revelou Filho de Deus e, com a sua morte e ressurreição, alcançou a salvação dos homens.

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