8.10.08

Jesus caminha sobre as águas (Mt 15, 22-33) - Primeira aproximação


Depois, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto ele despedia as multidões. Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E chegada a noite, estava ali só. O barco encontrava-se já a várias centenas de metros da terra, açoitado pelas ondas pois o vento era contrário. De madrugada, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Ao verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se e disseram: «É um fantasma!» E gritaram com medo. No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos, Sou Eu! Não temais!» Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas.» «Vem» - disse-lhe Jesus. E Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento, teve medo e começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!» Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» E quando entraram no barco, o vento amainou. Os que se encontravam no barco prostraram-se diante de Jesus dizendo: «Tu és realmente o Filho de Deus!»

Esta passagem de Mateus encontra um paralelo em Mc 6, 45-52. O relato de Marcos é mais sucinto e não menciona o facto de Pedro ter andado sobre as águas para encontrar Jesus. O evangelista decide contar o que aconteceu, de forma diferente, possivelmente porque lhe interessava, no contexto específico em que escreve, enfatizar a falta de fé de Pedro e a filiação divina de Jesus.

Mas como se posiciona este que relata os acontecimentos face aos mesmos? Está dentro ou fora da história? Coloca-se do lado de quem? Isso é importante para perceber este texto...

Aqui estamos, claramente, perante um narrador que não participa nos acontecimentos. Não só não intervém, como nem sequer estava presente, como espectador. É aquilo que tecnicamente chamamos de narrador extradiegético. Mas isso quer dizer que este narrador, por não ter estado lá, conta a história com imparcialidade? Não. Ele está implicado na história e faz-se claramente cúmplice de Jesus, dando-lhe a oportunidade de dizer as palavras chave do relato, de realizar uma acção espantosa e coloca nas bocas dos discípulos a afirmação derradeira: «Tu és realmente o Filho de Deus!» É o caso típico de narrador nos evangelhos sinópticos, pondo-se claramente ao serviço de Jesus e da sua missão, não procurando brilhar e exibir a sua omnisciência, mas dando o protagonismo todo a Jesus, pelo qual relata estes acontecimentos.

2 comentários:

Daniel disse...

Que vídeo tão giro...tipicamente Canção Nova!

hhuuggoo disse...

Há pessoal que não gosta de ler... quando pergunto a alguém se já leu um determinado livro, quase sempre respondem que viram o filme... queria certificar-me de que dava as possibilidades todas.