8.10.08

Ressurreição do filho de uma viúva - Lc 7, 11-17

7. A voz narrativa

A voz narrativa tem por finalidade proporcionar ao leitor todo o tipo de aclarações para que compreenda o texto. No nosso relato encontramos algumas dessas aclarações por parte da voz narrativa:

- Citação escriturística: v. 16: O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» Há aqui uma alusão a outras duas passagens atribuidas a dois profetas do AT, nas quais há ressurreições de mortos: Elias (1 Rs 17,1-24) e Eliseu (2 Rs 4,18-37; 13,20-21).

- Explicação: v. 17: E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região.

- Ponto de situação: v. 12: Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade.


8. O texto e o seu leitor

O episódio, próprio de Lc, serve para preparar a declaração de Jesus, a seguir: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, a Boa-Nova é anunciada aos pobres; e feliz de quem não tiver em mim ocasião de queda.» (Lc 7, 22). O narrador tem um pacto com Jesus e podemos ver isso mesmo em casos concretos. Na narração encontram-se traços da história de Elias (1 Rs 17,10-24), que invocando o Senhor devolveu a vida ao filho quase morto da viúva, como por exemplo a expressão filho único (v. 12) e a entrega do filho a sua mãe (v.15).

O narrador atribui a Jesus o título de “Senhor” (v.13). Com este pretende sublinhar a realeza misteriosa de Jesus. Já a expressão “Levanta-te” é um verbo que exprime a ressurreição dos mortos e Lucas utiliza-o, como os outros autores do NT, para designar a ressurreição do último dia, as ressurreições operadas por Jesus (v.22;) e a ressurreição do próprio Mestre. Tocar no caixão era um acto que tornava impuro aquele que o fazia. Jesus fê-lo e não deixou de ser puro por isso.

O AT atribui ressurreições de mortos só a dois profetas: Elias (1 Rs 17,1-24) e Eliseu (2 Rs 4,18-37; 13,20-21).

O destinatário será um leitor cristão de cultura grega, como se vê pela língua, pelo cuidado em explicar a geografia e usos da Palestina, pela omissão de discussões judaicas, pela consideração que tem pelos gentios. Lucas mostra o Filho de Deus como Salvador de todos os homens, com particular atenção aos pequeninos, pobres, pecadores e pagãos. Por isso, Lucas anuncia o Profeta dos últimos tempos que convida discípulos profetas, aos quais envia o Espírito Santo, para que, por sua vez, sejam os profetas de todos os tempos e lugares.

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